Wednesday, May 1, 2013

AINDA A PROPÓSITO DA MORTE DE CHINUA ACHEBE...


O escritor nigeriano Chinua Achebe, faleceu no passado 21 Março de 2013, em Massachusetts, Boston, EUA, com 82 dois anos de idade, depois de uma curta doença.
Albert Chinualumogu Achebe – seu nome completo – nasceu em Ogidi, sudeste da Nigéria, em Novembro de 1930; pertencia à etnia Igbo.

Achebe notabilizou-se internacionalmente no final da década de 50 do século passado, com “Things Fall Apart” (Quando Tudo se Desmorona). Um romance que vendeu acima de 8 milhões de cópias e foi traduzido em mais de 50 línguas, tornando-o no escritor africano mais traduzido de sempre. Outros livros de sucesso do nigeriano incluem “No Longer at Ease”, “Arrow of God” (A Flecha de Deus), “A Man of the People” (Um Homem Popular) e “Anthills of Savannah”.
Em 2007 recebeu o prémio Man Booker internacional, dos de maior prestígio da língua inglesa. Além de romancista, é contista, poeta, ensaísta e crítico. Foi professor universitário.   

Em 1990, Chinua caminhava de automóvel pelas estradas de Lagos com o seu filho Ikechukwu e motorista ao volante. Sofreram um acidente de viação. A coluna vertebral do escritor sofreu danos irreversíveis. Ficou paralítico da cintura para baixo, passando o resto dos seus dias numa cadeira de rodas.

O meu primeiro contacto com a escrita de Chinua Achebe aconteceu no início da década de 80, em minha adolescência. Li o seu “Um Homem Popular”, edição do INALD, comprado na (então?) tabacaria Tem-Tudo, no Kinaxixi. O livro causou em mim tal impressão, que não só reli como adquiri outros exemplares que fui oferecendo e guardando na minha pequena estante, respectivamente. Ainda hoje cuido com carinho o exemplar envelhecido que tem sobrevivido ao tempo, poeiras e mudanças.

Em “Um Homem Popular”, Achebe impressionou-me pela fluência e habilidade narrativa, tom crítico e profundidade temática. Narra a estória do Sr. Nanga, um político nigeriano, popular, polígamo e corrupto. Na verdade o escritor aborda não só a sociedade nigeriana, mas qualquer outra africana – e não só –, em uma crítica que se mantém actual e necessária. Depois li “A Flecha de Deus”.

“Um Homem Popular” de Chinua Achebe faz parte, indubitavelmente, dos livros que maior impacto provocaram em mim. Ou seja, é do melhor que já li em termos de literatura!
Uma leitura que recomendo aos adolescentes, jovens, intelectuais e políticos do meu país (por onde andas INALD, mais as publicações dos escritores africanos?). Uma leitura de reflexão que seguramente ajudar-nos-á a rever comportamentos política e socialmente nocivos.

Ainda que um pouco tardiamente não podia deixar de debitar palavras de agradecimento a este gigante da literatura africana: MUITO OBRIGADO CHINUA ACHEBE. DESCANSE EM PAZ!
     
Décio Bettencourt Mateus.
        
Porto, 03 de Abril de 2013.


Tuesday, October 6, 2009

A UNIÃO DOS ESCRITORES ANGOLANOS NO CONGRESSO DA ABRAPLIP.

A capital do estado brasileiro da Bahia, Salvador, acolheu de 13 a 18 de Setembro, o XXII Congresso Internacional da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa (ABRAPLIP), numa co-organização da Universidade Federal da Bahia e outras.

O acontecimento literário que teve como foco “Memórias, Trânsitos, Convergências”, congregou escritores de Angola, Cabo-Verde, Guiné Bissau e Portugal; professores, críticos, pesquisadores e estudantes, que analisaram e discutiram aspectos múltiplos da literatura feita na língua de Camões.

A União dos Escritores Angolanos (UEA) – a maior concentração de escritores ao evento – fez-se presente com Abreu Paxe, Adriano Botelho Vasconcelos, Akiz Neto, António Pompílio, Carmo Neto, Décio Bettencourt Mateus, João Melo, João Tala, Kanguimbo Ananás, Lopito Feijoó, Manuel Rui e Nana de Almeida. Fizeram ainda parte da UEA dois funcionários administrativos; naquela que é, muito provavelmente a mais numerosa delegação de escritores angolanos alguma vez deslocada ao exterior do País.

O primeiro grande momento dos angolanos aconteceu na tarde de 15 de Setembro, numa muito concorrida sessão de assinatura de autógrafos, pelos doze escritores. Nesta sessão, Adriano Vasconcelos, Akiz Neto, Décio Bettencourt, Manuel Rui, e a antologista Nana de Almeida, tiveram o previlégio de autografar em primeira, as suas obras recém-saídas da gráfica (e ainda não publicadas em Angola.

Em “Mesa Temática: União dos Escritores Angolanos – Depoimentos Literários”, aconteceu o segundo – e quiça mais importante – momento da delegação angolana ao XXII Congresso da ABRAPLIP. Os escritores falaram para uma farta e ávida assistência sobre as suas trajectórias literárias, influências, impressões e também breves leituras de textos seus.
Lopito Feijoó, reforçando o depoimento de João Tala, reflectiu sobre um dos movimentos literários mais importantes da Angola pós-independência, as Brigadas Jovens de Literatura, suas influências e percursores. Todavia alertou aos críticos literários e pesquisadores sobre a escassez de estudos a este movimento. Deplorou ainda o facto de as actuais análises à literatura angolana afunilarem-se à meia dúzia de escritores; incentivando a ampliação dos estudos a outros menos estudados autores. Também Adriano Vasconcelos – Secretário Geral da UEA –, em entrevista à TV Zimbo antes da partida ao Brasil, referiu-se de forma crítica à mesma questão, falando em “visão estreita da nossa literatura”.

A presença angolana em Salvador, despertou indubitavelmente grande interesse, pelas intervenções, títulos de obras expostas e presença numerosa, permitindo amostragem de outras facetas da nossa diversificada literatura.

Porém não foram somente louros colhidos. Foram também muitas as responsabilidades trazidas das terras brasileiras. Lopito Feijoó diria irónico a propósito: não sei mesmo se o peso das responsabilidades que levamos daqui não vão causar problemas no voo que vai nos levar à Luanda!

De regresso à Luanda, a aeronave da Taag estremeceu ligeiramente. Ligeiras tubulências, felizmente. Os passageiros foram convidados duas ou três vezes a apertarem os cintos de segurança. Mas será que por causa das responsabilidades, a que se referiu Lopito J. A. S. Feijoó K.? Muito provavelmente. Muito provavelmente…

Décio Bettencourt Mateus.

Publicado no Semanário Angolense, Edição 336, com o título:
Evento redescobre literatura angolana.